PAI DEMÉTRIO DOMINGUES


Pai Demétrio Domingues

Arquivo do Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo

Dimitri Augusto Domingues era seu nome, mas era conhecido como Pai Demétrio.
Após a realização do Segundo Congresso Brasileiro de Umbanda, realizado no Rio de Janeiro em 1961, o General Nelson Braga Moreira foi incumbido de organizar o Primeiro Congresso Paulista de Umbanda. Demétrio Domingues, do Círculo Umbandista, foi uma figura de destaque neste
evento, responsável pelo setor de comunicações.

Lísias Negrão, no seu livro Entre a Cruz e a Encruzilhada: Formação do campo umbandista em São Paulo, escreve sobre Demétrio:
A Associação Paulista de Umbanda foi fundada em 1971. Seu líder, contudo, é ativo participante do movimento federativo desde a década de 1950. Radialista profissional iniciou-se na Rádio Cultura de São Paulo, trabalhou nas rádios Record e Panamericana e foi fundador de várias estações no ABC: Rádio Club de Santo André, Rádio Cacique de São Caetano do Sul e Rádio Independência de São Bernardo do Campo. Trabalhou ativamente nos jornais Última Hora (São Paulo) e Hora de Umbanda (Santos). Para conhecer a Umbanda do Rio, “porque lá era o reduto”, trabalhou um ano e meio na Rádio Mayrink Veiga, ocasião em que também conheceu Zélio de Moraes e tornou-se adepto de sua Umbanda.

Vejamos um fato curioso. A Revista Radiolândia tinha uma coluna chamada “RECADO DOS FÃS PARA OS ARTISTAS”. Na edição n. 299, de 26 de dezembro de 1959, Margarida Augusto Domingues, de São Paulo, escrevia: “Demétrio Domingues és o maior produtor que a Rádio Cacique já teve até hoje. A minha maior alegria é ser tua fã e ser ouvinte da Rádio Cacique. Que os teus programas tenham bastante êxito, é o que eu desejo de todo o coração”. A mesma fã escrevia na edição n. 302, de 16 de janeiro de 1960: “Demétrio Domingues: Entre todas as tuas fãs, eu ainda sou a número 1. És o maior produtor da Rádio Cacique”.

Na página https://filhosdocacique.wordpress.com temos uma referência a Demétrio Domingues e a festa de Iemanjá: “A festa de Iemanjá em Praia Grande nasceu 1969, quando o então prefeito Dorivaldo Loria Júnior e o presidente do Conselho Municipal de Turismo, José Moura, em conjunto com Pai Demétrio Domingues presidente da Associação Paulista de Umbanda, que representava o SOUESP, realizaram a festa nas praias da Cidade, pois o Município oferecia muito espaço, 22,5 km de orla, e contava com a aceitação e colaboração das autoridades e da população. Assim, em dezembro daquele ano foi realizada a primeira festa, que contou com aproximadamente 15 mil participantes. Oficialmente, foi instituída pela Lei
244 de 3/3/1976 (autoria do ex-vereador Teodósio de Augustinis e sancionada pelo prefeito Leopoldo Estásio Vanderlinde)”.

Ainda sobre a festa de Iemanjá, em Praia Grande-SP, vejamos o projeto da Deputada Leci Brandão publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo:

A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO DECRETA:

Artigo 1° – Fica a “Festa de Iemanjá de Praia Grande” declarada Patrimônio Cultural Imaterial do Estado.

Artigo 2° – Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

JUSTIFICATIVA

A festa teve início há 60 anos, contando com aproximadamente 500 templos que se revezavam em coordenar uma pequena área da praia para os trabalhos espirituais.

Na década de 1970, chegou ao seu ápice, com o crescimento vertiginoso da religião de Umbanda, tendo mais de 200 mil pessoas nos três primeiros finais de semana do mês de dezembro, o que exigiu que um dos participantes, Pai Demétrio Domingues, então presidente da Associação Paulista de Umbanda, passasse a coordenar os templos para melhor comodidade das famílias umbandistas presentes.

Pai Demétrio contou com o trabalho árduo de Pai Jamil Rachid, presidente da União de Tendas de Umbanda e Candomblé do Brasil, que organizavam todos os templos, separando-os com mais espaço, e uma mínima infraestrutura que a cidade proporcionava na época.

Com a mobilização de toda a comunidade umbandista, esses dois desbravadores conseguiram comprar uma imagem com mais de 10 metros de Iemanjá, para que os fiéis depositassem ali suas flores e oferendas, à Senhora, chamada também de Rainha do Mar.

Os dois decanos sugeriram ao prefeito da época, batizar o bairro recém criado, com o nome de um médium que muito fez pela religião umbandista, e trabalhava espiritualmente com o Caboclo Mirim.

Nascendo ai o bairro de Vila Mirim, guardião da imagem de Iemanjá.

Hoje os festejos contam com a organização da Secretaria de Cultura e Turismo de Praia Grande (SECTUR), que realiza a inscrição dos templos, terreiros e entidades de todo o Brasil, interessados em participar dos festejos de Iemanjá, mediante pagamento uma taxa para entrar na cidade.

Através de um Decreto Lei Estadual, foram instituídos os Festejos de Iemanjá, constando no Calendário Turístico do Estado de São Paulo.

Devido à importância do trabalho dos decanos Demétrio e Jamil, uma área de Tradição Histórica, foi constituída devido à comprovada representatividade histórica nos festejos, trazendo à Praia Grande, uma das festas religiosas mais tradicionais do país, que hoje atrai mais de 600.000 (seiscentas mil) pessoas, nos dois primeiros finais de semana do mês de dezembro.

Hoje cabe aos Senhores Ogan Juvenal dos Santos e Pai Edson dos Anjos, representarem os Decanos na condução e organização deste grande
festejo, e também as principais Federações e Associações de Umbanda do Estado de São Paulo, junto ao poder público.

Diante da relevância da matéria, submeto a presente propositura à apreciação de meus nobres pares.

Sala das Sessões, em 30/3/2016.

a) Leci Brandão – PC do B

Demétrio Domingues sempre foi muito ativo, mas como homem de bastidores. Nunca foi presidente do SOUESP – na oportunidade em que se candidatou foi derrotado por Renato Dib – mas, na condição de seu coordenador, conseguiu construir sua sede própria e realizar Encontros de Chefes de Terreiros, por três anos consecutivos, nas dependências da Câmara Municipal. Foi o idealizador e o responsável pela construção
da estátua de Iemanjá em Praia Grande. Participou junto com Jamil Rachid da organização anual da Festa de Ogum no Ibirapuera, da qual sempre foi o locutor oficial.

Antes do surgimento do SOUESP, foi o contato do Colegiado Cruzeiro do Sul em São Paulo, transmitindo as notícias e mensagens de Attila Nunes em seus programas. Participou ativamente do Segundo Congresso Nacional de Umbanda de 1961 e foi um dos organizadores do Primeiro Congresso Paulista de Umbanda realizado no mesmo ano, do qual, mais tarde, emergiu o Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo (SOUESP), também sob sua coordenação. Foi assessor do vereador e presidente da Câmara Municipal de São Paulo Naylor de Oliveira, e de Laudo
Natel, quando governador. Tinha mesa reservada no Palácio e viajava pelo interior em carro oficial, com motorista e segurança, criando Uniões Municipais de Umbanda, como parte de esquema clientelístico montado por aquele político. Chegou a ser candidato a deputado estadual, mas, com a derrota de Natel para Maluf na convenção partidária que indicaria o candidato a governador, deixou de fazer campanha.

Em 1983, a União de Tendas de Umbanda e Candomblé do Brasil e a Associação Paulista de Umbanda, por meio de seus presidentes Jamil Rachid e Demétrio Domingues, assumiram a administração do Vale dos Orixás, em Juquitiba – SP, passado por seu idealizador, o Senhor João Paulo, que, na época, por problemas jurídicos e pessoais não podia dar continuidade ao projeto.

Demétrio Domingues presidiu o Fórum de Debates “A Umbanda e a Constituinte”, tendo como apresentador Diamantino Fernandes Trindade. Em 1971, fundou a Curimba Pombinho Branco, da Associação Paulista de Umbanda, em atividade até hoje.

Nas décadas de 1970 e 1980 publicou o periódico Umbanda em Revista (117 números), que circulou por mais de dez anos, com periodicidade mensal, onde divulgava os principais eventos umbandistas brasileiros, além de possibilitar que outros irmãos pudessem se manifestar por meio de suas matérias.

Em abril de 1985, Demétrio Domingues uniu forças com o conceituado editor Bartolo Fittipaldi e a DINAP (Distribuidora Nacional de Publicações
– Empresa do Grupo Abril) para lançar a Revista Umbanda Verdade que era uma versão ampliada e mais bem elaborada de Umbanda em Revista.
Infelizmente teve vida curta, com a publicação de apenas dois números.

Em 1987, Demétrio Domingues prefaciou o livro Iemanjá – Ogum de Pai Ronaldo Linares e Diamantino Fernandes Trindade.

Em 2007 o Jornal de Umbanda Sagrada, n. 87, agosto de 2007, noticiava:

Faleceu em 23 de julho, aos 75 anos, Pai Demétrio Domingues, uma das mais tradicionais e destacadas lideranças da Umbanda Paulista. Foi um dos fundadores do Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo e do Vale dos Orixás em Juquitiba, presidente da Associação Paulista de Umbanda, Chefe de Terreiro da Tenda Mãe Yemanjá (ambas na Zona Leste – SP), grande responsável pela implantação da Estátua de Iemanjá na Praia Grande – SP e pela 1a Semana de Louvor à Grande Mãe, há mais de 20 anos, sempre no mês de dezembro na praia, além de exercer, entres outras atribuições relevantes, a coordenação de grandes eventos religiosos nos últimos 50 anos.

Seu corpo foi velado na sede da Associação Paulista de Umbanda onde foi realizado um “Culto Fúnebre” em agradecimento a Oxalá pelos trabalhos prestados a Umbanda desde 1957, saindo o féretro para o Cemitério de Vila Formosa. Pai Demétrio era jornalista por profissão, casado e não deixou filhos carnais. A Umbanda brasileira enlutada envia à família, amigos e filiados votos de pesar pelo ocorrido.

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