O Vale do Amanhecer, segundo vários antropólogos e estudiosos, foi a primeira manifestação religiosa nascida na capital brasileira; nasceu sob a inspiração dada à sua fundadora chamada Neiva, ou, como é mundialmente conhecida e chamada, Tia Neiva.

Nascida no sertão brasileiro (Propriá, SE), teve uma vida simples, marcada por grandes dificuldades. Casou-se cedo e já aos 22 anos, em 1949, ficou viúva com quatro filhos que dela dependiam completamente. Por força e pressão dos fatos correntes, iniciou ali sua vida profissional montando um estúdio de fotos, “Foto Neiva”, que não durou muito tempo aberto visto que, por recomendação médica, logo teve que fechar suas portas. Após o fechamento do estabelecimento, não se deixou abater, comprou um caminhão e tirou habilitação profissional, a primeira a ser concedida a uma mulher no Brasil, e começou a transportar cargas por todo o Brasil para dali tirar seu sustento e de seus filhos.

Ao contrário de outros médiuns famosos da história, a mediunidade de Tia Neiva se manifestou de forma concreta quando ela já era adulta, com 32 anos; a partir dali lidava constantemente com sua clarividência que lhe permitia ver e ouvir espíritos e prever o futuro e ver o passado das pessoas, o que a deixava em pleno desespero. Embora se ouça falar muito de sua clarividência, se formos analisar os milhares de relatos a seu respeito constataremos que sua mediunidade não se resumia apenas a essa manifestação. Prova disso é o relato, até mesmo de uma bilocação realizada por ela, que permitiu que a mesma fizesse um curso no Tibete, com Mestre Humarran, sem que seu corpo físico se deslocasse do Vale do Amanhecer em Brasília.

A tão conhecida sede do Vale em Planaltina viu Tia Neiva pela primeira vez em 9 de novembro de 1969, quando ali ela chegou. De lá até aqui já se passaram muitos anos e a obra iniciada por ela estendeu-se por todo o Brasil, bem como para alguns lugares do exterior. Existe hoje no Brasil uma média de 650 templos do Vale do Amanhecer que copiam em sua estrutura o fixado em Planaltina. Tia Neiva desencarnou em 15 de novembro de 1985, dia em que a Umbanda celebrava 61 anos de fundação, e surpreendeu seus seguidores mesmo após seu desencarne quando os mesmos encontraram suas indicações de como deveria ser dirigido o seu trabalho a partir dali, dando detalhes pertinentes ao seu desencarne e conselhos a serem seguidos frente a situações já previstas por ela em vida, mas até então não reveladas.

Deixou um grande legado que perdura até hoje e se amplia dia após dia levando as bênçãos superiores de Pai Seta Branca, mentor maior de Tia Neiva e de toda a sua obra, a todos aqueles que dela precisarem.

Embora se diferencie da Umbanda em vários aspectos, a doutrina desenvolvida por Tia Neiva em muito se assemelha a vivenciada pelos umbandistas; elementos como a mediunidade, modelos de trabalhos, defumações, manifestações de Caboclos e Pais Velhos entre outros elementos efetuam uma espécie de laço ritualístico entre as duas correntes. Entre os relatos deixados por Neiva de experiências espirituais vivenciadas por ela alguns chamam a atenção dos umbandistas pela linguagem familiar, um exemplo claro disso é o relato que se segue cuja autoria é desconhecida:

Na Terra era ainda madrugada, mas no Canal Vermelho as luzes se sucediam produzindo climas tristes e alegres conforme as nuances. A Clarividente sempre se extasiava com esse jogo de luzes que presenciava, também em outros lugares do etéreo. O fenômeno produzido pela luz solar tinha alguma semelhança com as luzes que se projetavam nos palcos dos Teatros. Amanto chegou e depois de cumprimentar Tia afetuosamente, foi logo dizendo:

– Venha, vou lhe mostrar as coisas que precisa saber a respeito do Canal Vermelho. Vi como você ficou impressionada com aquele caso de ontem.

– Realmente fiquei um tanto confusa.

Respondeu Neiva.

– Aqui vivem espíritos em trânsito, pessoas que não completaram seus programas na Terra.

Enquanto ele falava, a Clarividente aperfeiçoava a noção de que as coisas ali pareciam com as da Terra. As árvores, porém, são todas simétricas e a relva fazia pensar naquela grama de nylon que se usa em certos estádios. No meio da relva apareciam algumas flores amarelas semelhantes às margaridas. Em meio ao verde azulado apareciam as casas, verdadeiras mansões cujo colorido era estranho.

– Não se enleve muito Neiva, seja natural e objetiva.

A observação de Amanto quase a encabulou, porém, acostumada como estava com esse tipo de disciplina, agradeceu e seguiram.

Aproximaram-se de um prédio maior em cuja fachada havia um grande letreiro. Suas luzes apagavam e acendiam como nos luminosos da Terra e nele se lia: “Credo Universal”. Como Amanto não a convidou para entrar, Tia com facilidade projetou sua visão no interior e logo percebeu o que ali passava. Acostumada, porém, com a didática de Amanto, ficou na expectativa. Não demorou muito e notou que se formava uma fila na entrada, mas, que as pessoas permaneciam como que indecisas. Para o seu espanto o letreiro mudara como por encanto e se lia claramente a palavra “Umbanda”.

– São umbandistas? E porque não entram?

– Sim, São médiuns recém-chegados da Terra, médiuns umbandistas que cometeram faltas contra as leis da Umbanda.

– Faltas? Que espécie de faltas?

– Comerciaram, negociaram sua mediunidade e com isso deturparam essa doutrina tão bela que é a Umbanda.

– Agora, o que vai lhes acontecer?

– Agora vão sofrer um pouco; vão se conscientizar até que cheguem seus cobradores para os reajustes.

– Reajustes? Como?

– Com as pessoas que lhes deram dinheiro e com os Exus fora da lei com quem trabalharam. Como você sabe Neiva, os exus fora da lei são um pouco produto da ganância dos seres humanos. As invocações e chamadas só fazem aumentar suas forças. O Médium que os invoca lhe dá oportunidade de se afirmarem nas suas metas e isso nada tem a ver com a umbanda.

Enquanto Amanto falava, a Clarividente prestava atenção na intensa atividade de espíritos que iam e vinham nos seus afazeres e missões. Subitamente tudo mudou as cores ambientais, a atitude das pessoas, as paisagens; formou-se um ar de mistério e hostilidade palpável. Tia teve medo e perguntou:

– Amanto, qual é a minha finalidade aqui?

– Em todo lugar que você estiver Neiva, é sempre para emitir, para proporcionar.

Ela não entendeu e ficou na mesma, enquanto Amanto prosseguia:

– Acabam de se libertar de Pedra Branca três espíritos e esse é o motivo pelo qual eu a trouxe aqui hoje. Veja, lá vêm eles!
Das três figuras que se aproximavam da mansão, dois homens e uma mulher, destacava-se a figura de um homem amorenado, aparentando 50 anos e de semblante triste. Ele caminhava com ar inseguro, olhando de um lado para o outro como se estivesse coagido.

– Este homem (disse Amanto), foi um grande dirigente umbandista e toda essa mudança de ambiente que você percebeu se deve à sua presença aqui.

Fazendo eco as palavras de Amanto, ouvia-se o clamor de muitas vozes que aclamavam o recém-chegado com entusiasmo, contrastando com o ambiente sombrio.

– Esses que estão com ele, o homem e a mulher, morreram juntos com ele?

– Não! O casal já desencarnou há algum tempo, ao passo que “Mestre” Jacó fez sua passagem há apenas oito dias.

De repente a mulher percebeu a situação e saiu correndo e Tia Neiva assustada gritou:

– Amanto! Olhe, acho que não há condições aqui para ela!

– De fato Neiva, a situação dela é bastante difícil. Ela enganou Mestre Jacó, explorou demais a sua boa vontade, fazia-se de vítima e traçava o retrato do marido à sua maneira. Mestre Jacó deixou-se enganar e apesar de suas boas intenções acabou procedendo desonestamente. Essa atitude de uma falsa justiça provoca débitos cármicos e a vingança se torna imperativa.

Tia então perguntou como seria resolvido aquele drama e Amanto lhe responde que cada um teria o que merece.

– A justiça de Deus é feita (prossegue Amanto), mas, é cobrada por missão, esclarecendo e evoluindo ao mesmo tempo.

– Como se passou mesmo esse drama na Terra?

– A mulher Tânia Maria, procurou Mestre Jacó e pediu que punisse seu marido José. O romance que ela contou fez com que Jacó se compadecesse dela. Na verdade, Tânia e José estavam em plena fase de reajustes cármicos. As Entidades Cobradoras ali estavam também em plena atividade cármica. Jacó invocou os Exus e os Cobradores fizeram o resto. Se ele não abrisse o campo de trabalho, se não servisse de instrumento, o reajuste se faria dentro da normalidade cármica.

Agora sou eu que lhe pergunto Neiva, o que você faria num caso desses?

– Faria como sempre faço. Esses casos são muitos e eu como clarividente tenho muita cautela, procurando entender o problema de um e de outro; eu analiso o fato com Mãe Calaça e fecho os ouvidos aos lamentos ou queixas. Depois de receber as ordens de Calaça eu procuro ajudar a parte mais obsidiada melhorando suas vibrações. Pai Seta Branca sempre diz que o homem quando é feliz ele é bom. Eu então procuro proporcionar algo bom ao injustiçado, ou melhor, ao que se diz injustiçado. Evito sempre uma posição emocional, pois o meu juramento a Jesus não permite isso. Trabalho buscando o equilíbrio da mente com o coração e nesses casos prevalece à mente. A intenção do mestre Jacó (continuou a Clarividente) foi de ajudar, e foi muito boa. Mas ele sentia as pessoas pelo coração deixando-se impressionar pelo que ouvia e isso é perigoso. Até mesmo o maior assassino zombador das leis, se considera um injustiçado e, além disso, é perigoso julgar, quando se está no meio de tão terríveis complexidades. Antes de tudo a gente deve ver a nossa imensa responsabilidade.

– É verdade Neiva, sua evolução está sendo cada vez maior.

– Sabe de uma coisa Amanto? Às vezes tenho vontade de passar um fecho na minha boca.

– Aí você pagaria por preguiça e egoísmo; continue como está que vai muito bem.

Salve Deus!

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