SUPERSTIÇÃO

Diário de São Paulo (SP), n. 384, 22 de novembro de 1886

Diz Victor Hugo:

Houve sempre quem acreditasse em congressos de feitiçaria, e alguns altamente colocados. César consultava a Sagana, e Napoleão mademoiselle Lenormaud. Há consciências tão inquietas que chegam a procurar indulgências do diabo. Faça-o Deus, mas não o desfaça Satanás.

Há espíritos mais timoratos ainda. Esses chegam a persuadir-se de que o mal pode ter razão contra ele. Ser irrepreensível para com o demônio é uma das suas preocupações. Daí vem as práticas religiosas voltadas para a imensa malícia obscura.

É uma carolice como qualquer outra. Os crimes contra o demônio existem em certas imaginações doentias; violar a lei do inimigo é uma coisa que faz sofrer os estranhos casuístas da ignorância: há escrúpulos para com as regiões das trevas.

Crer na eficácia da devoção nos mistérios de Brocken e de Amuyr, imaginar que se peca contra o inferno recorrendo a penitências quiméricas por infrações quiméricas, confessar a verdade ao espírito da mentira, fazem o mea culpa diante do pai da culpa, confessar-se em sentido inverso, tudo isto existe ou existiu.

Os processos de magia, provam-no em cada uma de suas páginas. Quando o homem começa a assustar-se não para mais. Sonha culpas imaginárias, sonha purificações imaginárias e faz limpar a sua consciência com a vassoura das feiticeiras.

OS FEITICEIROS

O Combate (SP), n. 964, 29 de julho de 1918

Um casal e uma mulatinha
que se entregavam ao “espiritismo”

Constantes eram as queixas que a polícia da Consolação recebia da feiticeira Francisca de Camargo Ribeiro, moradora à Rua Bela Cintra, 572.

Nhá França, como a chamavam, diariamente dava consultas a incautos, cobrando, às vezes. Às sextas feiras, principalmente, meninas iam ao barracão da mágica, pedindo-lhe remédios. Até uma família, moradora à Rua Galvão Bueno, consultava a mágica.

É inacreditável que ainda hoje pessoas que se deixem levar pelas “rezas” destas exploradoras.

Francisca, em companhia de seu marido Francisco Ribeiro, o de uma sobrinha Benedicta Camargo, exerciam o “espiritismo”, dizendo-se médium de fama.

A vizinhança não a suportava. A adivinha espancava estupidamente a mulatinha Benedicta e para isso pretextava futilidades; às vezes, falta de clientes. Dizia a bruxa que a má concentração lhe trazia dificuldades na cura dos clientes. E, por isso, judiava da mulatinha, bem como insultava vizinhos, ameaçando-os de agressão ou de mau olhado.

Pela manhã de hoje, o major Orlando Marques, subdelegado do distrito, deu uma busca em casa da feiticeira, juntamente com agentes.

A autoridade ali encontrou o casal e Benedicta e para isso deu uma busca em casa da feiticeira, juntamente com agentes.

A autoridade ali encontrou o casal e Benedicta que se entretinham com as galinhas, procurando então disfarçar o seu verdadeiro “ofício”.

Antes da polícia chegar, Nhá França agredira a sobrinha.

Foram apreendidos apetrechos de feitiçaria, tais como: cabelo, esqueleto de cachorro, cobras, uma cruz de madeira, receitas etc.

“Seu” Ribeiro, o marido da bruxa, vendo o resultado da diligência, disse ao subdelegado:– Isto é implicância, “seu dotô”.

– Eu sei disto, respondeu-lhe o Senhor Marques.
– Pois é, “seu dotô”, os vizinhos não gostam de nós, e o resultado é este.

Abriu-se o inquérito a respeito.

Os processos de magia, provam-no em cada uma de suas páginas. Quando o homem começa a assustar-se não para mais. Sonha culpas imaginárias, sonha purificações imaginárias e faz limpar a sua consciência com a vassoura das feiticeiras.

FOI ONTEM PRESA A MACUMBA DA RUA SÃO LEOPOLDO

Correio de São Paulo (SP), n. 21, 9 de julho de 1932

A menor que vivia na sua companhia foi hoje entregue ao Dr. Juiz de Menores
Santos, 8 – A polícia local teve, há dias, denúncia de que em uma casa da Rua São Leopoldo, pouco além do quartel do destacamento local, existia uma macumbeira que explorava que explorava a credulidade pública.

Por essa denúncia veio a saber o Dr. Clímaco Pereira, delegado regional, que na companhia da megera vivia uma menor de cor preta, de 13 anos de idade e que sofria da macumbeira constantes espancamentos, chegando até mesmo a passar fome.

A diligência da polícia

O Senhor Delegado Regional incumbiu de averiguar o caso o chefe de inspetores Pedro Capua, que acompanhado de mais três auxiliares, foi à noite visitar o antro onde se escondia a terrível megera contra a qual outras denúncias haviam sido levadas à polícia pelos explorados e também por motivo do espancamento que aquela infligia a uma menor que vivia na sua companhia.

A prisão da megera

Pouco depois das 24 horas, o inspetor-chefe Pedro Capua deu entrada na toca da macumba, efetuando a prisão de Natália Cambadela, apesar dos reiterados protestos que fazia da sua inocência, julgando-se caluniada da prática de bruxaria.

A polícia também por essa ocasião fez a apreensão da menor que, levada à Central, foi em seguida remetida para o Albergue Noturno, onde ontem pernoitou.

O que a polícia encontrou na “toca” da macumba

A mandingueira tinha o seu “laboratório” repleto. Lá foram encontradas muitas velas, azeite, um rabo de tatu, caveira, ervas curandeiras, moedas de cobre do Império, um gato preto embalsamado, terra solta, figas, baralhos, enfim, uma infinidade de coisas que caracterizavam a prática da bruxaria.
Todo esse “arsenal” de coisas foi posto num saco e levado à polícia.

O que da bruxa diz a menina

Interpelada na polícia, a menor que vivia na companhia da bruxa, aparentando medo, declarou que a macumbeira Natália “era do outro mundo”, fechava os olhos e desmanchava e arrumava casamentos.

Confirmou que sempre era espancada, mas não se atrevia a queixar-se porque a megera, com o auxílio do “gato preto”, adivinhava os pensamentos!

As declarações da menor provocaram gargalhadas na polícia enquanto, furibunda, sempre protestando, era Natália Cambadela recolhida à cadeia, à espera de ver-se processada convenientemente.

O destino que terá a menor

A menor foi hoje entregue ao Dr. Gervásio Gonavides, curador de menores, e, ao que parece, será internada no Asilo de Órfãos a requerimento daquela autoridade.

O inquérito policial

O Dr. Clímaco Pereira, delegado regional, está presidindo o inquérito a que responde Natália Cambadela. Ao que parece, neste já foram consubstanciadas provas bastantes da sua criminalidade contra a boa fé pública.

Aquela autoridade, com o auxílio dos inspetores chefiados pelo Senhor Pedro Capua, pretende intensificar a campanha contra aqueles que, como Natália Cambadela, abusam e exploram a credulidade pública.



– Por São Benedito, pela Três Cruzes das trinta e três incruziada; por Enxú e Cipriano, tua dor de cabeça vai passá.
– Passa mesmo, Tia Chica?
– Passa, meu filho… Assim que ocê toma um MELHORAL!
Revista Careta, 25 de março de 1944, n. 1865

Editor: Diamantino
Fernandes Trindade

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