Diamantino Fernandes Trindade
Ministro religioso da Casa de Cultura Umbanda do Brasil

 Prezados irmãos e irmãs umbandistas!

A história não é uma ciência exata. É um laboratório de grandes possibilidades.  A maioria dos adeptos da Umbanda sabe a história dos primórdios da nossa querida religião.

No dia 15 de novembro de 1908, o médium Zélio de Moraes, então com 17 anos, incorporou pela primeira vez o Caboclo das Sete Encruzilhadas, na sede da Federação Espírita do Rio de Janeiro – Niterói, que disse que estava trazendo uma nova religião que ele denominou Alabanda. Algum tempo depois mudou o nome para Umbanda.

No dia 16 de novembro do mesmo ano ocorreu a primeira sessão de Umbanda na casa da família de Zélio onde se manifestaram, além do Caboclo das Sete Encruzilhadas, o Pai Antonio.

Vale a pena citar que há, pelo menos, 150 anos os Caboclos e Pretos Velhos já se manifestavam nas macumbas cariocas e outros cultos afro-ameríndios, mas não em cultos com o nome de Umbanda. João do Rio, em seu célebre livro As religiões do Rio, de 1904, em momento algum fala do termo Umbanda.

Pois bem. Um grupo de antropólogos e sociólogos e alguns umbandistas ligados às academias universitária está tentando, de todos os modos, desconstruir essa história. Nada tenho contra os acadêmicos, pois, sou um deles, mas não escrevo sobre a Umbanda como doutor e sim como umbandista.

Vários artigos tem explorado a chamada “Invenção do mito da fundação da Umbanda”, todos eles, de algum modo, fundamentados nas pesquisas da norte-americana Diana Brown, autora do livro Umbanda e Política, que passou algum tempo no Rio de Janeiro, na década de 1970, pesquisando os cultos afro-brasileiros, e criou o tal mito, deixando transparecer que o evento de 15 de novembro não teria ocorrido.

Aluísio Berezowsky, filho do meu santé, em suas pesquisas diz:  O livro de Diana Brown, não somente no que toca à Umbanda, tem inconsistências mostrando seu descuido em ir às fontes. Por exemplo, ela diz que o professor Rivail era médium que recebia mensagens de um espírito chamado Allan Kardec. Ora, o professor Rivail era o próprio Allan Kardec.

Alguns desses pesquisadores dizem que a história da fundação da Umbanda, pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas e Zélio de Moraes foi construída pelos intelectuais da Umbanda nas décadas de 1950 e 1960. Leal de Souza, dirigente da Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, escreveu sobre o evento de 1908 no seu livro O Espiritismo, a magia e as Sete Linhas da Umbanda, em 1932. Antes, em 1925, ele narra a sua chegada à Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, no livro No mundo dos espíritos. Portanto, muito antes das décadas de 1950 e 1960.

Outros desses pesquisadores dizem, baseados em escritos do pesquisador francês Roger Bastide, que a Umbanda teria surgido na década de 1920. Ora, em 1920 já estavam funcionando algumas das sete tendas mestras fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. Mais uma inverdade sobre o fato. Uma matéria do Diário de Noticias, de 1913, fala da Lei de Umbanda, alguns anos antes da década de 1920 então. Benjamim Figueiredo, dirigente da Tenda Espírita Mirim foi preparado por Zélio de Moraes no início da década 1920.

No início da década de 1970, a pesquisadora, escritora e jornalista, realizou diversas entrevistas (42 fitas K-7) com Zélio de Moraes e sua família, Caboclo das Sete Encruzilhadas, Pai Antonio e dirigentes de algumas tendas filiais da Tenda Nossa Senhora da Piedade, onde são narrados os fatos ocorridos em 15 de novembro de 1908.

Temos farta documentação sobre os fatos. Documentos cartoriais, imagens, matérias de livros e revistas, relatos orais de Zélia de Moraes e Zilméia de Moraes e outros umbandistas da época. Não basta fazer algumas visitas a terreiros para escrever sobre a história da Umbanda. É preciso ir às fontes primárias. Eu não só pisei na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade como também lá girei, bem como na Cabana de Pai Antonio, onde fiquei por três dias. Mãe Zélia de Moraes ficou hospedada, junto com seu esposo Júlio, por quatro dias na minha residência. Imaginem quantas coisas as filhas de Zélio me contaram.

A documentação citada está disponível nos 17 livros sobre a História da Umbanda de minha autoria e também no livro História da Umbanda: uma religião brasileira, do irmão Alexandre Cumino.

Não somos donos da verdade. Se alguma comprovação documental contundente desses pesquisadores que falam do “Mito da fundação da Umbanda” forem apresentados, mudaremos nossa opinião, como fiz em relação ao uso dos atabaques na Tenda Espírita São Jorge, quando Pai Pedro Miranda explicou o fato. A bem da verdade histórica fiz minha reavaliação sobre o que tinha escrito anteriormente.

Se as pesquisas desses acadêmicos está correta então Zélio de Moraes e sua família, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, Pai Antonio e os dirigentes das tendas filiadas a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade foram grandes mentirosos!!! Pensem, prezados leitores e leitoras no absurdo.

Segue a relação dos livros sobre a História da Umbanda e uma matéria do Jornal de Umbanda sobre Zélio de Moraes.

18 OBRAS SOBRE A HISTÓRIA DA UMBANDA

Durante 11 anos nos dedicamos, por orientação do Astral Superior, à pesquisa sobre a História da Umbanda, totalizando 17 obras. O próximo passo é uma análise crítica sobre tudo que foi pesquisado. Para este trabalho foram designadas duas pessoas pelo mentor que orientou o caminho da minha pesquisa. Segue a relação dos livros:

    • História da Umbanda no Brasil – Volume 1 – Editora do Conhecimento.
    • História da Umbanda no Brasil – Volume 2 (A Umbanda nos jornais do Rio de Janeiro) – Editora do Conhecimento.
    • História da Umbanda no Brasil – Volume 3 (Memórias de uma religião) – Editora do Conhecimento.
    • História da Umbanda no Brasil – Volume 4 (Registros Históricos) – Editora do Conhecimento.
    • História da Umbanda no Brasil – Volume 5 (Documentos históricos) – Editora do Conhecimento.
    • História da Umbanda no Brasil – Volume 6 (Registros Históricos nos Periódicos) – Editora do Conhecimento.
    • História da Umbanda no Brasil – Volume 7 (Macumba e perseguições religiosas) – Editora do Conhecimento.
    • História da Umbanda no Brasil – Volume 8 (Imagens e Memórias) – Editora do Conhecimento.
    • História da Umbanda no Brasil – Volume 9 (Notícias Históricas da Macumba) – Editora do Conhecimento.
    • História da Umbanda no Brasil – Volume 10 (A transição da feitiçaria para a macumba nas primeiras décadas da República) – Editora do Conhecimento.
    • História da Umbanda no Brasil – Volume 11 (Feitiçaria e Macumba entre o Século XIX e o Século XX) – Editora do Conhecimento.
    • Retratos e Registros Históricos da Umbanda – Volume 1 – Editora Bagaço.
    • Retratos e Registros Históricos da Umbanda – Volume 2 – Editora Bagaço.
    • A construção histórica da literatura umbandista – Editora do Conhecimento.
    • Antonio Eliezer de Souza (O primeiro escritor da Umbanda) – Editora do Conhecimento.
    • O Jornal Aruanda e a Umbanda em Revista (Os baluartes Pai Jamil Rachid e Pai Demétrio Domingues) – Editora Bagaço.
    • Documentos e Imagens da Umbanda e da Macumba – Editora BesouroLux.
    • História da Umbanda: uma religião brasileira – Alexandre Cumino – Madras Editora.

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