Mesmo que “pais de santo” afirmem o contrário, a espiritualidade em nenhum momento é responsável pelos acontecimentos infelizes que rondam constantemente a vida terrena. Seja o indivíduo católico, evangélico, budista, kardecista, agnóstico ou ateu, imprevistos ainda ocorrerão durante sua caminhada enquanto encarnado. Chorar, sofrer, revoltar-se consigo mesmo e com o universo, acreditar que as forças do mundo lutam pelo seu fracasso e perder-se dentro de si próprio faz parte do ser humano; somente assim criaturas tão curiosas e teimosas aprendem sobre os encantos dos sorrisos, alegrias, contentamentos internos, sucessos e encontros com o “verdadeiro eu”.

Afirmar que uma força superior é a autora impiedosa por trás de todas as catástrofes que ocorrem na existência de alguém é o mesmo que assinar sua sentença de eterna estagnação e sofrimento inútil, pois a transferência de responsabilidade impede que o sujeito se enxergue como algo além de uma pobre vítima injustiçada pelo mundo covarde. Falhas em tempo nenhum serão corrigidas e qualquer ínfima esperança de melhora sumirá em meio a crescente ilusão de perfeição. Indubitavelmente o “líder religioso” obterá – ainda que precise desmantelar cada uma das crenças sensatas de seu médium em potencial – o que quer: um fantoche disposto a sustentá-lo sem pedir nada em troca.

Há certa facilidade velada em aceitar uma constatação tão favorável quanto a entregue pelos angariadores de fiéis quando em comparação aos obstáculos (egoísmo, ego, orgulho, rancor etc.) que carecem serem traspassados para que algo simples como “me desculpe, eu também errei” seja mais que um murmúrio esquecido no fundo da garganta cheia de nós. Como explanado anteriormente, esse comodismo evoluirá aos poucos, como uma doença negligenciada, até que as únicas palavras disponíveis sejam “se desculpe, você errou” e a infelicidade tortuosa contamine e afaste aqueles que verdadeiramente se importam com o bem-estar daquele que estará sem rumo.

A sociedade a qual pertencemos desde que respiramos pela primeira vez explicita aos quatro ventos o quão significativo é nos encaixarmos de modo primoroso no quebra-cabeça global: seja calmo, seja educado, arrume sua postura, vista as roupas da moda, troque seu corte de cabelo, sorria e acene, mas não seja – em hipótese nenhuma – você. Fomos ensinados a agarrar com unhas e dentes objetivos comportamentais utópicos até estabelecermos padrões tão altos que nem mesmo com uma escada gigante tocaríamos sequer na base; um sistema impossível de ser seguido, vantajoso para aquele que o estabelece e traiçoeiro para o resto.

Permitir-se falhar, voltar atrás e tentar de novo demonstra maturidade para com as questões complexas do cotidiano que exigem mais do que apontamentos infantis e respostas vagas dadas por quem pouco ou nada sabe sobre a genuína missão altruísta dos espíritos de luz – além de preservar o corpo e alma em relação a futuras dores de cabeça muito mais persistentes do que as causadas pelo carro que quebrou ou a prestação da casa que atrasou. Não há nada mais benéfico do que tomar em ambas as mãos a própria carruagem com tonéis de preocupação e levá-la para além do rio da ignorância.

 

Alan Barbieri
Sacerdote Umbandista do
Templo Escola Casa de Lei
Alan Barbieri
Contato: (11) 2385-4592
barbieri.empresa@gmail.com

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