Trocar de terreiro – eis o dilema de muitos filhos de santo…

É comum ver na assistência dos terreiros pessoas com guias no pescoço, e grande parte delas são filhos de determinados terreiros procurando orientações ou até mesmo outro lugar para trabalhar.

Assunto delicado e desgastante para ambas as partes, seja para o filho de santo ou para o sacerdote, mas que precisa ser discutido, afinal, faz parte da vida de todos os médiuns em algum momento da sua caminhada.

Existem vários tipos de situações, por isso não podemos generalizar nem apresentar uma solução mágica para este tipo de problema, mas uma coisa é certa: se você não está feliz, está no lugar errado…

Não nos cabe avaliar qual terreiro é melhor ou pior, primeiramente porque nenhum é igual ao outro, e segundo porque gosto e afinidade são coisas muito pessoais, e cada qual com o seu.

Geralmente, quem muda de terreiro constantemente não teve critério algum de escolha quando entrou. Entrou por qual motivo? A resposta mais comum é:  – Porque disseram que eu precisava desenvolver…

Eu nem vou comentar aqui o que acho dessa mania que as pessoas têm de falar indistintamente aos consulentes que eles precisam desenvolver, precisam trabalhar, sem falar que antes é necessário pelo menos conhecer a Umbanda…afinal, como é que uma pessoa escolhe seguir uma religião que ela não conhece?

E mais importante ainda: você gostou do terreiro, mas sabe quem é o dirigente? Sabe o que ele pensa, que tipo de trabalho realiza? Poucos têm esse discernimento, e nada mais fazem além de ficar umas poucas giras e sair dizendo que não era o que ele esperava.

Outros alegam procurar um terreiro sério, mas não aguentam o peso da responsabilidade de pertencer a uma religião dinâmica como a Umbanda, onde você é o templo. Sim, cada médium é um templo onde o Sagrado se manifesta, mistério desconhecido pela maioria.

E ser um templo significa compromisso, abnegação, firmeza, disponibilidade, persistência, estudo, tempo etc.

Sei que o assunto é sair do terreiro, e não entrar, mas o fato é que a saída tem muito a ver com o modo como a pessoa chegou; não dá para separar uma coisa da outra.

Eu sei que se trata apenas de seres humanos, sendo seres humanos, mas o fato é que as relações terreiro-médium são idênticas ao casamento. No começo, tudo são flores…até ouvir o primeiro “não”; até o irmão chamar a atenção para algo que está errado; até ser podado nos seus exageros, causados por desconhecimento das regras ou resistência à elas; até começarem as “amizades de infância” com pessoas completamente desconhecidas, que são exatamente aquelas que os levarão a sair de um terreiro que não teve sequer a chance de se defender…

Afinal, o fato de alguém pertencer a um terreiro não faz dele automaticamente um santo, né gente? Deixo claro que isso se aplica aos dirigentes também.

Bom, respondendo à pergunta inicial, qualquer pode sim, sair do terreiro que frequenta, se possível pela porta da frente, de cabeça erguida e com dignidade.

Poucos casamentos acabam com respeito mútuo e de comum acordo, mas isso é possível entre pessoas esclarecidas e evoluídas.

Não está feliz? Não concorda com as atitudes de seus dirigentes? Analise. Veja se as qualidades de seu pai ou mãe-de-santo superam seus defeitos, levando em consideração que eles são seres humanos como você.

Se essas falhas ferirem a sua ética pessoal e forem graves aos seus olhos, peça licença e procure cuidadosamente outra casa, sem pressa.

Frequente a assistência, conheça bem a casa, os dirigentes, procure saber no que eles acreditam e o tipo de trabalho que realizam.

Informe-se sobre as linhas com as quais eles trabalham, a forma com que se relacionam com os Orixás, enfim, se correspondem ao que você procura.

Termine esse “casamento”, na medida do possível, com respeito, e não saia falando mal, em consideração aos bons momentos que certamente existiram enquanto ele durou.

Peça orientação e direcionamento às suas próprias forças, pois onde você for eles o acompanharão.

Tudo o que as entidades querem é um lugar para trabalhar, onde a Lei de Umbanda seja cumprida, sem melindres ou falsas expectativas.

É seu dever cuidar da sua própria evolução, sem fiscalizar o desempenho alheio.

O médium que procura o terreiro perfeito vai passar a vida inteira estagnado para, ao final, perceber que deixou de crescer como espírito e como pessoa, pela arrogância de não permitir aos outros serem como são, sendo ele mesmo um ser humano passível de falhas.

Mas aquele que já não se sente bem onde está, mesmo ponderando o que aqui foi exposto, tenha a coragem de encerrar uma fase e começar outra, ainda que seja do zero, sem se esquecer que os recomeços são uma chance incrível de nos renovarmos em todos os sentidos.

Aos dirigentes, deixem ir quem não quer mais ficar, sem ressentimentos. Afinal, a Umbanda também é, entre outras coisas, liberdade. Axé!!!

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