Após a conclusão bem-sucedida da jornada em busca de uma boa casa, o novo médium deverá estabelecer um primeiro contato com o dirigente do local escolhido e, dentro desta premissa, existirão alguns pormenores aos quais o próprio deverá se atentar, entre eles está a dita comunicação inicial que irá estabelecer tanto o interesse em se entrar para a corrente quanto a transmissão de informações e regras, pois para alguns a crença na validade de entrada somente através de um Guia é real, embora trate-se apenas de um regulamento isolado e não obrigatoriedade padrão. Outros pontos a serem minuciosamente evitados dizem respeito ao comportamento, sendo eles a explícita difamação do terreiro do qual participava anteriormente — caso tenha o feito — e o desvio de intuito, que irá consistir no depósito de expectativas em setor impróprio, como nas atitudes de seus companheiros, e no esquecimento da verdadeira troca que irá intercorrer somente entre o que o recém-chegado necessita e o que a casa terá a possibilidade de lhe oferecer.

É natural do ser humano alavancar ao máximo sua ansiedade e imaginação ao se deparar com o tenro ambiente, contudo, assim como em qualquer outro âmbito de nossas existências em sociedade, é imprescindível a busca pela realidade “nua e crua” para que sejam rechaçadas grandes futuras decepções também no meio religioso. Envolvidas e incrustadas nesta tal veracidade dos terreiros estão as regras que serão seguidas irremediavelmente por todos os membros da corrente e a humildade de toda a comunidade para receber elogios, críticas ou conviver socialmente com qualidade. Claramente um dirigente sempre terá a obrigação de estar aberto a apontamentos construtivos dentro dos limites aceitáveis, porém tal afirmação não abstém o novo médium de cumprir as normas antes discutidas assim como qualquer outro veterano. Possivelmente seja intimidadora a ideia de destruir as jovens concepções de perfeição humana que nascem em nossa consciência ao mergulharmos e nos devotarmos a um terreiro, todavia o princípio a ser adotado é a inexistência da maestria no momento em que tratamos com seres de carne, ossos, sentimentos e alma; sim, o dirigente também o é.

O processo de adaptação incluirá a formação de vínculos afetivos que proverão opiniões e acontecimentos cruciais para estruturação de discernimento do novo médium e que irão o influenciar inevitavelmente, porém é vital que o próprio lembre-se de seu propósito e se evada de conflitos morais e éticos prejudiciais que certos laços possam trazer a tona. Infelizmente é fundamental estar ciente da máxima: “Todos são bons quando vestem o branco, mas isso não quer dizer que sejam pessoas realmente boas”. O récem-chegado irá se deparar com fofocas, intrigas, rixas, inveja, frustrações e raiva em algum espaço de tempo no templo religioso e será nestes momentos que a força de vontade e fé também serão testadas. Anulo, por fim, a ambiguidade de interpretação das frases anteriores, pois a qualquer sinal de agressão física, abuso de autoridade, humilhação e/ou tortura é substancial que seja denunciado às autoridades locais como crime passível de punição e reclusão.

O objetivo principal da Umbanda é nos auxiliar em nossa caminhada pela estrada de terra repleta de pedregulhos chamada vida e servir a nós como sandálias confortáveis para nossos pés descalços e cansados enquanto caminhamos por ela. É nosso dever maior nos mantermos fiéis aos nossos valores, personalidade, trejeitos, sensações, sentires internos e essência, mesmo quando uma pedra mais afiada cortar uma das tiras da sandália ou nos provocar um corte. Optar por fazer parte de uma casa é assumir um compromisso de aperfeiçoamento pessoal e aceitação de mudanças materiais e espirituais inimagináveis que só terão a agregar na jornada do novo médium.

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