Leva tempo para compreender que as pessoas são seres complexos o suficiente para buscarem ajuda, mas ignorarem a solução dada. Seja por um conflito interno, experiências anteriores ou ambos, sempre existirão aqueles que se deslocarão até o terreiro, sentarão de frente para a entidade, desabafarão, ouvirão os conselhos e irão embora sem seguir nada do que foi dito. E não há qualquer obrigatoriedade de o médium duvidar de si ou de sua entidade por conta disso, pois a ele cabe somente servir como canal para o aconselhamento e apresentação de um novo ponto de vista ao consulente; quantas vezes forem necessárias.

Embora cause indignação ver aqueles indivíduos cometendo as mesmas faltas já apontadas, é fundamental que o médium os encare como encara a si mesmo: alguém ainda aprendendo a viver. É um conceito fácil de ser explanado, entretanto extremamente árduo de ser experimentado uma vez que se tende a tentar ajudar até começar a interferir no livre-arbítrio concedido aos humanos por Deus. Há momentos em que é preciso calar a revolta interna para com a “falta de conselhos” do Guia e prestar atenção no silêncio e no abraço aconchegante que ele dá.

No instante em que aquele responsável por receber o suplicante se indispõe com as ações do mesmo frente à dificuldade relatada, considerando-o fraco por evitar tomar atitudes decisivas, estará simultaneamente ignorando as ocasiões em que esteve preso no mesmo dilema e buscou a opinião de outrem. Seguramente essa análise fantasiosa feita por quem possui pouca empatia e que considera apenas um resultado sem variáveis é completamente dispensável. Ver-se como o provedor do direcionamento talvez provoque a sensação de certa superioridade sobre o outro, ainda que o tratamento oferecido pelo Guia ao consulente tenha total serventia para o aparelho que transmite suas falas.

O objetivo do terreiro é proporcionar mais uma chance de evolução aos encarnados – sejam estes os que estão à frente da corrente camboneando, dando consultas ou procurando um sentido para o que vivem. Sem que metas sejam estabelecidas, expectativas criadas e frustrações adquiridas ao final do dia. A prática da caridade não traz em sua essência a indispensabilidade do atendimento ideal, perfeito, primoroso, sem igual e sensacional, assim sendo questionar o trabalho dos espíritos de luz a cada retorno do consultante é o mesmo que desperdiçar esforços numa guerra que em nenhum momento requereu a participação do consultor.

Nem todo mundo tem a capacidade de se desvencilhar imediatamente da realidade em que encontra-se, nem todo mundo quer abdicar dos momentos bons que tem junto à raiz de seus problemas, nem todo mundo é tão confiante para fechar os olhos e se jogar de cabeça numa nova realidade; nem todo mundo quer ser salvo. Todo mundo quer ter um porto-seguro, alguém que possa ouvir sem demonstrar qualquer tipo de preconceito ou julgamento, algo que destoe do ambiente confuso em que se fechou. Mais ajuda um sorriso doce acompanhado de um olhar sincero do que uma lista de afazeres para quem nem sabe por onde começar.

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